TOC na infância

20.05.21

O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um transtorno com muita ansiedade envolvida. Ele se caracteriza por: 

Obsessões: pensamentos incômodos, ideias, imagens repetitivas, indesejadas e intrusivas;

Compulsões ou Rituais: comportamentos que a pessoa tem para fugir de um pensamento incômodo ou prevenir a ocorrência de algo que a ameaça.  

Ele funciona mais ou menos assim: “Tenho um pensamento incômodo que me deixa muito ansioso e, para me livrar dessa ansiedade, eu faço determinado ritual e volto a me sentir bem.” 

O grande problema descrito no ciclo acima é que “se sentir bem” é temporário. Em outro momento o pensamento volta e, por saber que determinado ritual alivia o incômodo, o indivíduo continua  executando  até que o comportamento repetitivo tome conta  de sua vida. 

Esses rituais e eles são realizados de acordo com regras individuais. A pessoa pode repetir um comportamento muitas vezes até se sentir bem. Além disso, o indivíduo pode desenvolver muitos rituais diferentes ao longo da sua vida dependendo da época, cultura e contexto em que vive. 

Para exemplificar tudo isso trago os três principais temas presentes no TOC, com seus respectivos sintomas para ficarmos em alerta:

LIMPEZA E CONTAMINAÇÃO

  • Preocupação persistente sobre germes e doença;
  • Pensamentos sobre se sentir sujo (fisicamente ou mentalmente);
  • Medo persistente de se expor à sangue, substâncias tóxicas, vírus e outras fontes de contaminação;
  • Evitação de possíveis fontes de contaminação;
  • Compulsões para se livrar de itens que considera sujo;
  • Compulsões para lavar ou limpar itens contaminados;
  • Rituais específicos de limpeza como limpar as mãos inúmeras vezes;

Se leu os itens acima, provavelmente pensou na pandemia  como um momento que pode favorecer o surgimento do TOC ou intensificar  sintomas. Acredito que ainda não exista comprovação científica sobre o aumento de casos nesse momento, mas nunca recebi tantos pacientes com os sintomas de TOC como recebo agora. Aliás, este é o motivo de trazer essas informações para o blog. 

Vamos para o segundo tema…

SIMETRIA E ORDEM

Os sintomas podem incluir:

  • Necessidade dos itens estarem alinhados de determinada maneira;
  • Necessidade extrema de simetria ou organização dos itens;
  • Necessidade de Simetria nas ações (se bato em braço preciso bater no outro também);
  • Compulsão por arrumar itens até eles ficarem  perfeitos; (“just right”);
  • Se sentir incompleto quando os itens não estão organizados com a perfeição que o indivíduo espera;
  • Rituais de contagem: necessidade de contar determinado número de vezes;
  • Pensamento mágico ou crença de que algo ruim irá acontecer se não organizar as coisas de determinada maneira;
  • Rituais de organização ou maneiras específicas de alinhar os objetos;

PENSAMENTOS PROIBIDOS, PERIGOSOS, TABUS E IMPULSOS

  • Pensamentos intrusivos de natureza sexual ou violenta;
  • Sentimentos de culpa, vergonha e incômodo acompanham os pensamentos;
  • Questionamento persistente sobre orientação sexual e interesses sexuais;
  • Preocupação frequente de que irá agir de acordo com o pensamento intrusivo ou que ter o pensamento o fará uma pessoa ruim;
  • Preocupação frequente de que irá se machucar ou machucar alguém sem querer;
  • Sentimento de responsabilidade e culpa por causar coisas ruins às pessoas;
  • Compulsão de guardar objetos que poderiam machucar alguém;
  • Reassegurar-se de que não é uma pessoa ruim ou não fez algo ruim;
  • Repassar tudo o que fez no dia para ter certeza que não machucou alguém;

As pessoas podem ter sintomas de mais de uma dessas dimensões.

Com relação às causas pode haver uma predisposição genética e os fatores ambientais como mudanças significativas na vida devem ser considerados. 

As questões descritas aqui se referem tanto ao TOC na idade adulta quanto em crianças. Ao olharmos exclusivamente para crianças temos algumas complicações no que diz respeito ao diagnóstico e também à intervenção. Adultos conseguem perceber os pensamentos intrusivos e rituais “estranhos” e conseguem relatar com maior facilidade. Já as crianças podem não conseguir entender e expressar os conteúdos de seus  pensamentos e/ou podem evitar falar deles por vergonha. 

Por isso, os  adultos precisam estar muito atentos aos comportamentos da criança para ajudar com o diagnóstico. É preciso observar se ela está evitando muitas coisas como a escola, os amigos, sair de casa, festas de aniversário, encontrar primos, falar em público, viajar com família e/ou escola. É preciso notar também se ela está angustiada e deixando de fazer atividades que fazia antes. 

Fique atento a relatos como: “pensamentos ruins, que não saem da cabeça”, em dificuldades em engajar em uma brincadeira, inseguranças, dificuldade em tomar decisões e fazer escolhas, levar mais tempo que o comum para fazer  coisas do dia a dia como se vestir, tomar banho, organizar a mochila, fazer lição de casa e atentem também a movimentos “estranhos” e a repetição de  atividades. 

Como vocês viram, o TOC pode comprometer muito a vida da criança. E o auxílio do adulto para a identificação, busca de auxílio especializado e posteriormente ajuda na intervenção é fundamental. 

O Tratamento para o TOC na infância busca melhorar a qualidade de vida da criança, ajudando a diminuir os sintomas. Na maior parte dos casos é necessário o acompanhamento medicamentoso, psicológico e de outros profissionais da saúde. 

Na busca por ajuda, priorize sempre intervenções a partir de evidências científicas. Hoje, os tratamentos mais indicados se baseiam em técnicas de exposição e regulação emocional que devem ser conduzidas por profissionais qualificados.  

Para mais dicas, fique de olho em nossos conteúdos nas redes sociais.

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