13.11.20
A infância de hoje tem sido diferente. As crianças estão brincando cada vez menos, criando e fantasiando pouco e, cada vez mais sobrecarregadas de tarefas, ficando consequentemente mais estressadas. A pandemia e a necessidade de isolamento poderia surgir como uma oportunidade para relaxar de muitos compromissos, para se conectar com a família. Mas será que é isso tem acontecido? Isso aconteceu aí na sua casa?
Cada pessoa, cada família, tem respondido de uma maneira a todas essas mudanças. Mas eu percebo, e entendo que grande parte das famílias, cada uma com sua realidade e especificidade, tem ficado muito estressada e tem vivido diferentes conflitos.
E quais são suas estratégias para lidar com estresse, com conflitos e com sentimentos negativos? Você tem uma? ela funciona?
E quando seu filho perde a calma, o que você faz? Você dá conta de lidar com os sentimentos dele de forma eficiente?
Vem pensar comigo sobre essas respostas…
Pensar sobre o que fazer em situações adversas é algo que precisa ser feito antes das situações aparecerem. Mas na prática, não é assim que funciona. Tendemos a agir no automático quando nos sentimos desafiados. E quando nós, adultos, nos descontrolamos, estamos dando um modelo para a criança de como agir em momentos parecidos.
Vamos imaginar a seguinte situação: Uma criança de 6 anos está jogando um jogo de tabuleiro com seu irmão de 9 e está perdendo todas as partidas. Na terceira vez ela fica muito nervosa e dá um tapa no tabuleiro, espalhando as peças pela casa inteira. A mãe, que estava na sala ao lado participando de uma reunião importante, ouve e vai correndo para ver o que aconteceu. Ao chegar lá vê seu filho menor chorando, irritado, dizendo que não consegue ganhar o jogo. Ao ver e julgar que a situação não era tão séria, a mãe também fica muito irritada por ter de sair do trabalho e acaba dando um sermão no filho: “eu não acredito que precisei sair da reunião para atender vocês por esse motivo! Você não pode ficar bravo por perder, perder faz parte do jogo, você precisa se acalmar e tentar de novo! Agora chega de jogo por uma semana!”
Primeiro ponto a pensarmos a partir deste exemplo é que, quando uma criança está em crise e perde o controle, não adianta dar sermão e ensinar o que deve ser feito. A criança frustrada que bate na mesa e chora, naquele momento não tem condições de aprender. Seu cérebro está muito agitado e o que ela precisa, em primeiro momento, é ser acolhida.
Dar este suporte para a criança quando também ficamos irritados pode ser muito difícil. Mas precisamos lembrar: Quem é o adulto na relação? Quem será que tem mais condições de se restabelecer emocionalmente primeiro? Você ou seu filho?
Gosto de pensar que esses rompantes, que as frustrações, os momentos de raiva e nervosismo que as crianças apresentam servem de aprendizagem. Momentos de crises como esses são completamente naturais na infância e vão acontecer com bastante frequência. E o que as crianças podem aprender com isso? Bem, isso vai depender muito de como os adultos vão lidar com ela.
A mãe do exemplo que eu usei, está ensinando para seu filho que ele não tem o direito de ficar frustrado por perder no jogo. Provavelmente a criança do exemplo sentiu muito mais raiva depois da intervenção da mãe, e não aprenderá a lidar com a mesma situação de forma diferente, caso ela volte a ocorrer.
Exercite seu autocontrole acima de tudo. Respire fundo e tente ajudar seu filho, ele está precisando muito da sua ajuda. Se você conseguir manter a calma, ele irá aos poucos percebendo que também consegue se acalmar. Caso você perca o controle, peça desculpas. Assim estará ensinando que todos nós erramos.
Você pode se aproximar, abraçar ou pegar na mão, olhar nos olhos, escutar o que ele quer dizer, acolher o sentimento. Pode também dizer que está ali para ajudá-lo, que ele pode contar com você. Acalmem-se juntos.
A criança do exemplo, pode ser direcionada para outra atividade depois de acolhida na sua frustração. A mãe pode mudar o foco daquela situação estressante e sugerir uma outra brincadeira que não envolva competição. Pode pedir a colaboração do irmão maior para acalmá-lo distraindo-o com massinha de modelar, ou levando-o para chutar uma bola na parede e descarregar a tensão.
Mais tarde, quando todos estiverem mais calmos é hora de falar sobre o ocorrido. Relembrem o que aconteceu, tentem entender a situação, e aí sim é hora de pensarem em estratégias para fazer diferente na próxima vez. Tente não dizer o que deveria ser feito e sim perguntar: “agora que você está mais calmo, consegue pensar em como poderia ter feito diferente?”
Sugira atividades a serem feitas em momentos estressantes: Chutar bola na parede, socar um travesseiro, rabiscar uma folha de papel e depois rasgar, sair gritando pelo quintal. Todas essas atividades têm como função “descarregar”. E isso pode e deve ser feito! Muita atenção à crianças mais quietas e introspectivas que, em situações estressantes, guardam seus sentimentos. Essas crianças podem estar sofrendo muito!
Deixe claro também o que não pode ser feito: não pode bater, não pode ofender, não pode destruir a casa e não pode se machucar. Ensine que o nervosismo, estresse e frustração são sentimentos como todos os outros e que fazem parte da nossa vida. Nós precisamos entender que eles vem e que precisamos lidar com eles de maneira eficiente quando aparecem e que logo em seguida eles passam.
Não espere que seu filho aprenda a se controlar e utilizar as estratégias discutidas por vocês na primeira situação. Toda aprendizagem envolve tempo e persistência. Nas primeiras vezes você vai precisar intervir e lembrá-lo do que pode ser feito.
Estratégias que envolvem autocontrole e expressividade emocional são muito importantes para o desenvolvimento sócio emocional saudável em todas as fases do nosso desenvolvimento. Saber o que fazer em situações desafiadoras é uma habilidade construída durante a nossa vida.
E quando temos elas desenvolvidas, evitamos o aparecimento de doenças mentais e aumentamos as chances de sermos bem sucedidos em diversas áreas de nossas vidas. Enquanto pais, vocês têm um papel fundamental no desenvolvimento das habilidades sócio emocionais de seus filhos.
Fique de olho em nossos conteúdos nas redes sociais e aprenda muitas outras estratégias de regulação emocional para serem usadas com seus filhos 🙂
Um beijo
Psicóloga Nadia Favretto